Escola Estadual “Professor José Madureira de Oliveira” de Santo Antônio do Rio Abaixo, 24ª SRE de Nova Era
LOCAL DO CURSO: BELO HORIZONTE
PERÍODO: outubro, novembro e dezembro de 2007
" É impossível para aqueles que não conhecem a língua de sinais perceberem sua importância para os surdos: a influência sobre a felicidade moral e social dos que são privados da audição, a sua maravilhosa capacidade de levar o pensamento a intelectos que, de outra forma, ficariam em perpétua escuridão. Enquanto houver dois surdos no mundo e eles se encontrarem, haverá o uso dos sinais."*(J. Schuyler Long)
No início desse ano letivo, eu disse a meus alunos que o que me faz sentir VIVA, GOSTAR da SALA DE AULA é a capacidade de fazer tudo diferente, de transformar, de buscar o novo, de procurar alternativas que agradem, de aproveitar o que foi bom, descartar o que não deu certo...
E aqui estou eu com a certeza de que novamente sou outra depois dessa oportunidade enriquecedora de ter participado desse CURSO BÁSICO DE CAPACITAÇÃO EM LIBRAS PARA PROFESSORES.
Aos colegas das SREs de Muriaé, Paracatu e Nova Era,
e o desejo de um próximo reencontro para prosseguirmos no aprendizado da LIBRAS...
A maioria das crianças surdas chega à escola sem uma língua, pois, no convívio familiar, não dispõe dos Sinais para ser sua primeira língua.
Na maioria dos casos não há uma comunicação satisfatória entre o surdo e a família ouvinte, iniciando-se, aí, o processo de exclusão. E, normalmente a família compensa o sentimento de culpa, permitindo o comportamento “sem limites” a esse filho, que se aproveita da situação, contribuindo para a dificuldade de uma vida adulta independente e feliz .
Então, quanto mais cedo a criança surda entrar em contato com a LIBRAS, melhor para seu processo de desenvolvimento e para que obtenha pré-requisitos para a aquisição da segunda língua - a Língua Portuguesa – que deve ser ensinada de forma diferente para os surdos com estratégias e técnicas próprias.
Assim, o aluno deve ser incentivado a desenvolver a língua de sinais, para que ele possa fazer parte de um mundo da estruturação de pensamento, pois quem não domina uma linguagem não tem pensamento bem estruturado.
E é a escola que deve criar um ambiente lingüístico adequado, assegurando-lhe desenvolvimento sócio-emocional, assim, também, como o de seus pais, com atividades voltadas para tal. Para que isso aconteça espera-se que a escola desenvolva um trabalho educacional com ênfase nos pontos fortes da criança e, não para o que lhe falta, a fim de que sejam respeitadas as diferenças. É no sistema de LIBRAS que as interações e a comunicação têm maior êxito.
A surdez não é uma incapacidade, mas uma diferença. Assim, o surdo apreende o conhecimento preferencialmente pelo canal visual - o seu ponto forte. Dessa forma a escola, atenta a esse aspecto, alicerçará seu projeto educativo a partir desse enfoque.
É imprescindível que os responsáveis pelo ensino do surdo estabeleçam uma pedagogia onde cada educador seja operante competente e responsável pela contribuição de um ensino de qualidade ao surdo. Assim estará garantida a sua inclusão social, levando-o à qualificação tal qual o ouvinte.
Com paciência e atenção faremos com que a barreira da comunicação entre surdos e ouvintes se desmorone, proporcionando a ambos uma vivência plena. (Daí a importância da LIBRAS no currículo tanto para surdos quanto para ouvintes.)
"Chegada de oralização! Estamos criando nossas crianças surdas como meninos-lobo", critica Norberto Rodrigues, médico neurologista presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, organizadora do Simpósio Internacional de Língua de Sinais e Educação de Surdos.
Norberto usa essa imagem forte com absoluto conhecimento de causa: na Sociedade e em dois núcleos de pesquisa - um na Universidade de São Paulo (USP) e outra na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) -, ele desenvolve pesquisas exatamente sobre as relações entre o cérebro e as funções cognitivas humanas e ainda atende, em seu consultório, crianças com problemas cognição. "Os estudos lingüisticos e neurológicos são irrefutáveis e contundentes no sentido de provar que a organização celebral da linguagem, quer oral, quer gestual, é exatamente a mesma.
As evidências são de tal ordem que só um preconceito insano justifica a insistência na oralização de crianças surdas." Formado, mestrado e doutorado pela USP, com um estágio de pesquisa em neurolingüística na Universidade de Bruxelas e depois de vários anos de trabalho no Instituto Pestalozzi e na Divisão de Ensino e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (Derdic, da PUC). Norberto chegou às seguintes conclusões: "Se a língua de sinais é organizada no cérebro da mesma forma que a língua oral, então, do ponto de vista biológico, a língua de sinais é uma língua natural, o seu aprendizado tem um período crítico.
E, se tem um período crítico, então as crianças surdas estão iniciando muito tarde o seu aprendizado", afirma o neurologista com um raciocínio claro e lógico. Ele situa este período critico de 2 para 3 anos de idade. "Depois começa a dar encrenca". A insistência na oralização tem resultados desastrosos: "A criança surda não se oraliza e se cria um menino-lobo mesmo, com graves dificuldades psicológicas, de personalidade e de caráter, e cognitivas, porque ninguém nasce pronto e ninguém consegue se formar sem linguagem", adverte Norberto.
O presidente da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia condena também a insistência em definir o surdo como deficiente auditivo. "Essa discussão é uma grande bobagem. Se quiserem chamar o surdo de deficiente auditivo, que chamem. O fato é que o indivíduo surdo tem uma língua, uma cultura e pode ser um cidadão tão útil quanto outro qualquer , desde que lhe sejam dadas as condições de se desenvolver e se comunicar através de uma língua organizada e natural, que é a de sinais."
A escola, na opinião de Norberto Rodrigues, tem papel predominante na formação afetiva, emocional e cognitiva do surdo, usando a língua de sinais. "Está certo todo o pessoal que insiste em que a escola para surdos deve ser desde a infância até a faculdade. Só assim se vai poder colocar os surdos em pé de igualdade com ouvintes cultos."
Na Escola Estadual “Professor José Madureira de Oliveira”, onde leciono, está matriculada uma aluna surda de 16 anos. Chegou em nossa escola ano passado, já na 5ª série. Analfabeta. Fui professora dela no ano anterior. Perguntei a mim, à escola, como iríamos ajudar, na verdade, ninguém sabia lidar com a surdez de Madalena. Nada fizemos! Atualmente não sou professora dela. E motivada por esse curso fui tentar me comunicar com ela.
Chamei-a, da porta, usando sinais. Ela entendeu e me acompanhou. Sentamos. E agora o que fazer? Sorri para ela. Ela sorriu. Tentei gesticular mostrando a escola, sala de aula , apontando para ela , fazendo sinal de coração ( para gostar), balancei a cabeça negativamente e fiz sinal de é bom com os dedos, tentando perguntá-la se ela gostava da escola. Ela não entendeu. Repeti, não teve jeito. Desenhei a escola, fiz uma estrada, fiz sinal de andar a pé e de carro para perguntá-la de que jeito ela vinha para escola, ela não entendeu. Lembrei-me que ela morava perto de um rio: fiz gesto de nadar, jogar água para cima, com gestos perguntei se sabia nadar ou não. Ela não entendeu. Peguei uma revista, mostrei foto de rio, fiz o gesto de nadar. Ela entendeu! Emitiu sons de alegria, ao entender. Simulei jogar bola, com as mãos e os pés , ela me acompanhava com o olhar e riu. Sei que ela participa de Educação Física e gosta de futsal. Tentei perguntá-la se ela jogava com os pés ou as mãos. Ela achava muita graça. Ah, ela gostou muito de continuar identificando na revista tudo que tinha água... Acho que vou poder começar a ajudá-la.
Como não existe em minha cidade nenhuma instituição que atenda a surdos, visitei a Escola Especializada “Prefeito Gérson de Ramos Gonçalves” (nos moldes da APAE), mantida pelo Estado, da cidade de Santa Maria de Itabira que fica a 30 km de minha cidade. Fui bem recebida. A diretora me apresentou aos professores, à fonoaudióloga e me levou em cada sala de aula. É uma escola ampla, tem mais ou menos 30 alunos. São duas alunas surdas, de 10 e 14 anos que estudam junto a outros 6 alunos com outros comprometimentos. Todos são considerados deficientes, inclusive elas. Nenhum professor tem curso de LIBRAS.
Deparei-me com a mesma situação de atendimento aos surdos, novamente. Sendo uma escola especializada esperava encontrar os alunos surdos em contato com LIBRAS e a realidade educacional mais uma vez se mostra distante da idealizada.
Em termos de formação social e do indivíduo, pude perceber um ambiente tranqüilo, onde as crianças e jovens têm definidos seus papéis e sabem de seus limites; demonstraram também atitudes de cooperação.
Somente a mais nova estava presente. Fomos a uma sala reservada para que eu pudesse entrevistá-la. nas minhas tentativas de sinalizar e gesticular para que nos entendêssemos, não fui bem. Mostrei fotos de minha cidade. E perguntei: Você mora aqui? (sinalizando e dizendo, pois fui informada pela fono que ela está fazendo leitura labial) Ela entendeu e disse (oralizando): “nã". Perguntei se ela gosta da escola, o que ela fazia ,mas não entendeu. Pedi que me levasse a sala dela (usando sinais e gestos) e me mostrasse o que ela fazia. Ela entendeu. (Ah, a sala estava vazia, porque era dia de separar lixo para reciclar, e os alunos estavam envolvidos nessa atividade.) Quando íamos para o local que estavam trabalhando com o lixo, ela pegou em minha barriga e fez cara de interrogação. Não sei se queria saber se eu estava grávida ou se tinha filhos, mas eu apontei para a minha barriga, sinalizei não, depois mostrei o sinal dois e mostrei o tamanho de meus filhos. Ela entendeu. Depois disso ela contava para todos que eu tinha dois filhos.
Depois pude observar dois momentos da escola em que a atividade era com todos juntos: o ensaio de uma música para a confraternização de natal, - pude observar que seu corpo acompanhava as vibrações da música , mas não abria a boca, depois fui informada que ela movimenta os lábios imitando os outros, e na hora de ir embora é costume todos se reunirem numa roda para falar do dia, agradecer, rezar , cantar e , nesse dia uma funcionária que iria se casar foi homenageada, as próprias crianças tiveram iniciativa de cantar “Parabéns” e ela se entusiasmou , bateu palmas e soltou sons acompanhando.
"Os surdos podem comunicar-se mais facilmente e com maior precisão pela
Língua de Sinais, porque o cérebro deles se adapta para esse meio e,
se forçados a falar, nunca conseguirão uma linguagem eficiente
e serão duplamente deficientes."(Sacks ,Oliver - Vendo Vozes:
Uma Viagem pelo Mundo dos Surdos )
Neste primeiro contato com a Libras deu para perceber como minha visão sobre o assunto era limitada, aliás, posso dizer que era um assunto desconhecido.
Deu para aprender que :
· Libras é uma língua espaço-visual;
· O alfabeto manual é uma ponte entre Libras e Língua Portuguesa. Ele apenas representa a Língua Portuguesa, logo, não é necessário saber o alfabeto manual, inicialmente, para se alfabetizar em Libras;
· Adquirir uma língua é diferente de falar;
· O período de aquisição da linguagem vai de 0 a 3 anos e, como a maioria das crianças surdas chega à escola sem uma língua, isso prejudicará o processo normal de aprendizagem;
· É depois de aprender a língua de sinais que os surdos estarão prontos ao aprendizado da Língua portuguesa;
· A protolinguagem é uma linguagem restrita do surdo e de seu grupo;
· É obrigação educacional levar o surdo ao mundo da comunicação pois, a língua tem função afetiva, social e cognitiva;
· A aula de Língua Portuguesa não dá para ser a mesma para o surdo e o ouvinte;
· Para ficar fluente em Libras é necessário conviver com surdos por mais ou menos quatro anos;
· É necessária muita expressão corporal para se expressar na Língua de sinais;
· O OBJETIVO DESSE CURSO É APRENDER O BÁSICO PARA SE COMUNICAR COM O SURDO.
As línguas de sinais surgiram espontaneamente da interação entre as pessoas. Elas permitem a expressão de qualquer significado advinda da necessidade comunicativa do ser humano.
Não podemos considerar a língua de sinais apenas uma linguagem, visto que, ela apresenta uma estrutura gramatical dotada de regras. A diferença reside no fato de que a Língua portuguesa é uma modalidade oral-auditiva, enquanto que a língua de sinais é espaço-visual ou gesto-visual. Os gestos, em Libras, se equivalem às palavras, em Português.
As línguas de sinais distinguem-se das línguas orais porque utilizam-se de um meio ou canal visual-espacial e não oral auditivo. Assim, articulam-se espacialmente e são percebidas visualmente, ou seja, usam o espaço e as dimensões que ele oferece na constituição de seus mecanismos “fonológicos”, morfológicos, sintáticos e semânticos para veicular significados, os quais são percebidos pelos seus usuários através das mesmas dimensões espaciais. Daí o fato de muitas vezes apresentarem formas icônicas, isto é, formas linguísticas que tentam copiar o referente real em suas características visuais.
As palavras da LIBRAS e do português se estruturam a partir de unidades mínimas sonoras e espaciais, respectivamente. Por exemplo, em LIBRAS, temos: aprender e sábado,que são duas palavras ou sinais distintos com significados também distintos somente pelo fato de o primeiro sinal -APRENDER - ser articulado na testa e de o segundo - SÁBADO - ser articulado na boca do usuário. Isto é, há uma característica espacial distinta nos sinais, o ponto de articulação, que os distingue. Essas características, na testa e na boca, são unidades mínimas distintivas equivalentes aos fonemas.
São cinco parâmetros que permitem compreender a estruturação fonológica da Língua de sinais, a saber:
1. configuração das mãos: são formas das mãos que podem ser distintas com a mesma configuração ou idênticos com configurações diferentes;
2. ponto de articulação: é o lugar onde se articula o sinal;
3. movimento: (das mãos no espaço enquanto sinaliza)
4. orientação: (direção da mão no momento da articulação)
5. Expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros
mencionados acima, em sua configuração tem como traço diferenciador também a
expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos
somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL.
O léxico da LIBRAS, assim como o léxico de qualquer língua, é infinito no sentido de que sempre comporta a geração de novas palavras.
A língua de sinais exige uma simultaneidade de elementos – a expressão facial, o olhar, o movimento, o sinal... que se equiparam à entonação da oralidade.
VISÕES DA SURDEZ
(Carlos)
"Recuso-me a ser considerada excepcional, deficiente. Não sou. Sou surda. Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus olhos são meus ouvidos. Sinceramente nada me falta. É a sociedade que me torna excepcional..." ( Laborrit,Emmanuelle -O vôo da gaivota)
São duas visões da surdez:
A clínico-terapêutica – explica-se a surdez como PERDA AUDITIVA : leve, moderada, severa e profunda. São considerados deficientes auditivos(D.A). Há um trabalho voltado para a erradicação da surdez, para a reabilitação do paciente. Procurando, assim, a aproximação do “NORMAL” – o ouvinte. O tratamento visa desenvolver as habilidades auditivas, bem como, a Linguagem Oral.
A sócio-antropológica – os surdos são vistos como tendo um acesso diferente ao mundo, pelo fato de não ouvirem. Ser surdo não é ser deficiente. O surdo desenvolve seu conhecimento de mundo através do canal visual-gestual, adquirem e usam a língua de sinais e é esta que lhes proporciona o desenvolvimento tanto nos aspectos cognitivos, como sócio-emocionais e lingüísticos.
A concepção que valoriza suas capacidades, seus pontos fortes e não suas dificuldades é a sócio-antropológica – o surdo se assume como tal, se respeita e quer ser respeitado. Faz da sua diferença a sua força. Nessa abordagem não se fala em D.A, mas em surdez. Assumir a Língua de sinais como sua primeira língua é para o surdo uma questão de identidade.
" A Escola deve ser um elemento transformador. A isso, acrescentaríamos: deve sê-lo de modo especial para o surdo, mais do que para qualquer outra criança ouvinte, pois temos que admitir o seu universo, mas transformar a sua deficiência em eficiência. Talvez, mais do que educadores em geral, tenhamos o compromisso com a escola transformadora." (Alfredo Goldback)
Gláucia e Ana Lúcia são professoras de educação infantil no INES. Gláucia ,em sua fala, relata o trabalho desenvolvido com crianças de 0-3 anos , considerada “Educação Precoce
Os objetivos são traçados tendo por base os PCNs. São objetivos gerais: a formação pessoal e social( identidade e autonomia); e conhecimento de mundo( linguagem, matemática, natureza e sociedade). São objetivos específicos: entrada na sistematização de Libras; exposição a Língua Portuguesa; exposição audtiva.
A família também faz parte do processo, recebendo o atendimento necessário. Ressalta-se aqui a importância do ambiente lúdico, uma sala de aula o mais natural possível e a presença do responsável no ambiente. a criança deve ter liberdade de escolha, de acordo com seu interesse, mas sem perda de vista do objetivo proposto. A criança estabelece, também, seu próprio ritmo.
REFORÇA-SE SEMPRE O VALOR DO BRINQUEDO – QUE É O FACILITADOR DA INTERAÇÃO, ONDE A CRIANÇA ADQUIRE AS PRIMEIRAS NOÇÕES DE REGRAS.
Considera-se que a criança está apta para a pré-escola quando demonstra ter autonomia, bom desenvolvimento motor e bom nível de comunicação.
Ana Lúcia detém sua fala no desenvolvimento da pré-escola, quando se inicia o processo de leitura e escrita.
Afirma que é mais importante considerar os pré-requisitos vencidos do que a idade da criança para estar na pré-escola.
São objetivos específicos da pré-escola : promover a cooperação, troca de idéias, respeito pelo indivíduo e pelo grupo, criatividade e o fortalecimento da auto-estima, em um ambiente lúdico, visando a aquisição da linguagem no desenvolvimento global da criança.
Ana Lúcia mostra uma seqüência didática importantíssima na aquisição da leitura e escrita pela criança surda para garantir o processo que ocorre por um longo e interminável período. Vale a pena rever o material apresentado, acho que é possível aplicá-lo também a crianças ouvintes que têm dificuldade de aprendizagem.
A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O SURDO
(Lúcia Alves Baduê, INES)
" No mundo há muitas línguas diferentes, mas cada uma tem seu sentido. Porém, se eu não entendo a língua que alguém está falando, então quem fala é estrangeiro para mim e eu sou estrangeiro para ele."*(Primeira carta de Paulo aos Coríntios)
São objetivos gerais do Ensino de Língua Portuguesa: a leitura autônoma e crítica de diferentes tipos de textos; a escrita como apoio para registro de suas expressões e comunicação; o prosseguimento nos estudos.
É importante ressaltar que o vínculo afetivo previne problemas e tornam as dificuldades em desafios a serem intermediados entre professor e alunos.
A aprendizagem de uma língua se dá ao longo da vida, por essa premissa, o professor deve ter a sensibilidade de partir de onde o aluno sabe através de atividades desafiadoras.
Como a Língua Portuguesa tem uma natureza interdisciplinar, em sua diversidade de gêneros, permite ao professor explorar com criatividade essa característica de modo que permita ao surdo ampliar sua visão de mundo.
A professora Lúcia propõe uma seqüência didática em sua fala, que permite o aluno partir da compreensão de um texto com a ajuda de libras até chegar ao ponto de produzir texto com sua opinião formada sobre o texto explorado.
Encerro as observações do posicionamento da professora Lúcia com as palavras de Hélio Pelegrino que ela usou para deixar que refletíssemos sobre a importância do ato da escrita, do registro: “A linguagem (...) escrita constitui o chão da liberdade. Através de seu uso é que os seres humanos se fundem, enquanto sujeitos livres capazes de transformar o mundo e inventar novos caminhos.”
" A Escola deve ser um elemento transformador. (...)de modo especial para o surdo, mais do que para qualquer outra criança ouvinte, pois temos que admitir o seu universo, mas transformar a sua deficiência em eficiência. Talvez, mais do que educadores em geral, tenhamos o compromisso com a escola transformadora."*Alfredo Goldback
Como o aluno surdo tem como ponto forte o campo da visão, em Matemática deve–se explorar esse principal canal de aprendizagem do surdo.
Através de jogos, materiais alternativos – como varetas, canudinhos, etc - iniciam-se conceitos matemáticos, que na maioria das vezes , são conceitos adquiridos no dia-dia, na oralidade, a que o surdo não tem acesso.
Por exemplo, inicia-se na sala desenvolvendo conceitos de retas, semi-retas, ângulos ; em segundo momento, numa aula externa esses conceitos são retomados de forma prática: no campo de futebol tem todos os exemplos de ângulos e retas, que com o uso de barbantes e varas, esses conceitos são concretizados; finalmente passa –se aos registros com a interferência dos alunos, que são estimulados a isso e a trocarem informações entre si, buscando uma interação na língua de sinais.
Outro material bastante riquíssimo, que permite um trabalho muito bom com figuras planas, área e perímetro, é o geoplano. Vale a pena conferir novamente como se usa esse material.
Torno-me repetitiva ao dizer do valor também dessa aula para crianças ouvintes, pois a Matemática é considerada um bicho-de-sete-cabeças por muitos alunos e , talvez por que falte a eles isso: a socialização, a prova da presença da matemática no espaço.
Apreciação do filme: E seu nome é Jonas
Ser diferente! Quantos problemas por isso... Seria bem mais fácil se não houvesse preconceito, rejeição...
Se Jonas pudesse dizer, com certeza diria: “Ei, pessoal! Apenas sou surdo, tenho o direito de viver assim e vocês têm que aceitar minha diferença! Sou capaz, basta que comuniquem comigo!”
Os problemas da surdez mostrados no filme são de diversos ângulos: educacionais, sociais, psicológicos (relacionamento entre pais, o como educar, impor limites, o pai que abandona a família , o preconceito, a discriminação) . Observa-se o tratamento preconceituoso e estigmatizante ao surdo pela instituição escolar, ao lhe ser negada a apropriação da língua de sinais. Até que a mãe rompe essas barreiras e vai em busca de um mundo onde é possível seu filho construir sua identidade, promovendo e preservando a cultura surda.
E essa discussão mantém-se atual. Verifica-se ainda, com muita freqüência, práticas de educação que visam a uma produção de fala que faz pouco ou nenhum sentido para os surdos e que os faz gastar horas em treinos que não levam à aprendizagem de uma linguagem. O verdadeiro problema parece estar no fato de que a linguagem oral precisa ser ensinada; o que ocorre normalmente com os ouvintes é que ela é adquirida,sem que para isso haja qualquer procedimento "especial".
Laura sofreu uma infecção aos 6 anos e ficou surda. Viveu presa em casa por mais ou menos 12 anos, sem acesso à escola ou qualquer outro ambiente onde pudesse ter uma convivência .Era maltratada pelo pai, e a mãe nada fazia.
Em casa trabalhava e trabalhava. Por qualquer falha era espancada pelo pai. Não era vista como surda, e , sim, “burra”. Numa dessas cenas de violência, Laura reage. Pula a janela do prédio onde morava e se machuca. É socorrida e fica internada, mesmo sem ter se machucado gravemente. O assistente social ao perceber que é surda, procura ajuda de Pan. Preocupados com a situação de Laura - surda , analfabeta, sem nenhuma comunicabilidade e maior de idade – Pan e Ned deixam-na internada até que descubram a razão desses problemas.
Pan envolve emocionalmente com Laura, levando-a até para sua casa quando não conseguia uma instituição adequada que a aceitasse.
Através de testes comprova-se que Laura é muito inteligente, com desenvolvimento mental de 5 anos e emocional de 8 anos.
Laura foi reeducada, aprendeu rapidamente, adaptou a diversas situações e de encontro ao mundo dos surdos se libertou e aprendeu a se virar em meio a ouvintes e surdos.. aprendeu a comunicar oralmente e pôde se pronunciar no tribunal no dia em que seu pai fora julgado pelos maus-tratos.
DEPOIS DO SILÊNCIO... LAURA, SURDA E REINTEGRADA À SOCIEDADE.
Resenha do Artigo: “Educação de surdos no ensino regular: inclusão ou segregação?”, de Ana Dorziat
É relevante considerar os três critérios citados por Ana Dorziat na inclusão do SURDO, a equipe pedagógica deve ter clareza de como se processa, se estabelece a capacidade discursiva do surdo. Só assim poderemos ter a escola que queremos : Educação de surdos no ensino regular: inclusão.
Resenha do Artigo: “A surdez, o surdo e seu discurso”,
de Neuma Chaveiro e Maria Alves Barbosa
Nesse artigo, as autoras consideram LIBRAS como a base essencial na formação discursiva do surdo, sendo também de suma importância um maior entendimento da identidade dos surdos pelos profissionais da saúde.
Acrescento em minhas observações a fala de PIMENTA ( 2001, p.24), ator surdo, citada pelas autoras: “ a surdez deve ser reconhecida como apenas mais um aspecto das infinitas possibilidades da diversidade humana, pois ser Surdo não é melhor ou pior do que ser ouvinte, é apenas diferente. Eu nasci Surdo e, como só se perde quilo que se tem, nunca perdi a audição, pois nunca a tive. Eu tenho direito de viver assim e o mundo tem o dever de aceitar minha diferença”.
Seguindo esse raciocínio, considero também de igual importância a compreensão de LIBRAS pelos profissionais da educação que têm como tarefa a inclusão social dos surdos, na aquisição de uma educação plena com necessidades específicas sem serem privados de informações e atividades só por serem surdos.
Língua de sinais é a única ferramenta capaz de levar à verdadeira inclusão.